Sobre a Verdade - Krishnamurti

"A Verdade é uma terra sem caminho". O homem não chegará a ela através de organização alguma, de qualquer crença, de nenhum dogma, de nenhum 
sacerdote ou mesmo um ritual, e nem através do conhecimento filosófico ou da técnica psicológica. 

Ele tem que descobri-la através do espelho das relações, por meio de compreensão do conteúdo da sua própria mente, mediante a observação, e não pela análise ou dissecação introspectiva. 

O homem tem construído imagens em si próprio, como muros de segurança - imagens religiosas, políticas, pessoais. 

Estas se manifestam como símbolos, idéias, crenças. O peso dessas imagens domina o pensamento do homem, as suas relações e a sua vida diária. Tais imagens são as causas de nossos problemas, pois elas dividem os homens. 

A sua percepção da vida é formada pelos conceitos já estabelecidos em sua mente. O conteúdo de sua consciência é a sua consciência total. Este conteúdo é comum a toda humanidade. 
individualidade é o nome, a forma e a cultura superficial que o homem adquire da tradição e do ambiente. A singularidade do homem não se acha na sua estrutura superficial, porém na completa libertação do conteúdo de sua consciência, comum a toda humanidade. Desse modo ele não é um indivíduo.

A liberdade não é uma reação, nem tampouco uma
escolha. É pretensão do homem pensar ser livre porque pode escolher. Liberdade é observação pura, 
sem direção, sem medo de castigo ou recompensa. A liberdade não tem motivo: ela não se acha no fim da evolução do homem e sim, no primeiro passo de sua existência. 

Mediante a observação começamos a descobrir a falta de liberdade. A liberdade reside na percepção, sem escolha, de nossa existência, da nossa atividade cotidiana.

O pensamento é tempo. Ele nasce da experiência e do
conhecimento, coisas inseparáveis do tempo e do passado. O tempo é o inimigo psicológico do homem. 

Nossa ação baseia-se no conhecimento, portanto, no tempo, e desse modo, o homem é um eterno escravo do passado. O pensamento é sempre limitado e, por conseguinte, vivemos em constantes conflito e numa luta sem fim. Não existe evolução psicológica.

Quando o homem se tornar consciente dos movimentos
dos seus próprios pensamentos ele verá a divisão entre o pensador e o pensamento, entre o observador e a coisa observada, entre aquele que experimenta e a coisa experimentada. 

Ele descobrirá que esta divisão é uma ilusão. Só então haverá observação pura, significando isso percepção sem qualquer sombra do passado ou do tempo. Este vislumbre atemporal produz uma profunda e radical mutação em nossa mente.

A negação total é a essência do positivo. Quando há
negação de todas aquelas coisas que o pensamento produz psicologicamente, só então existe o amor, que é compaixão e inteligência."
Krishnamurti em Os Anos de Realização.

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