Absoluto e relativo - Pedro Kupfer
"Quando olhamos para a Criação, o que vemos? Formas e mais formas por todos os lados. Coisas e mais coisas, que usando substantivos e qualificamos através de adjetivos. O mundo é palavra e significado. Namarūpaḥ.
O Universo é uma miríade de nomes e formas. Inteligência manifestada. O Absoluto é a origem, o fundamento; o Relativo é a manifestação, os miríades de nomes e formas.
Na “Canção do Conhecimento do Ilimitado”, Brahmajñānavālī, um linda composição em dezenove estrofes de Śrī Śaṅkarācārya, o incrível professor do século VIII, deu uma definição belíssima dessa peculiar relação entre o Ser e a manifestação:
ब्रह्म सत्यं जगन्मिथ्या जीवो ब्रह्मैव नापरः ।
अनेन वेद्यं सच्छास्त्रमिति वेदान्तडिण्डिमः ॥ २०॥
brahma satyaṁ jaganmithyā jīvo brahmaiva nāparaḥ |
anena vedyaṁ sacchāstramiti vedāntaḍiṇḍimaḥ || 18 ||
"O Ser é Verdade, Satya. O Universo é Relativo, mithyā.
A crença da separação (jīvaḥ) não é mais que o Ser.
Aquele através do qual esta Verdade é conhecida é
o śāstra mais elevado. Assim ruge o Vedānta". || 18 ||
Você pode compreender o Ilimitado através da compreensão do Universo como um atributo circunstancial dele. O Ilimitado é manifestado na forma do Universo, transitoriamente. Existia antes, existe agora, existirá depois.
Antes, sem forma. Agora, nas formas visíveis. As que conhecemos e as que desconhecemos. Depois, sem forma novamente.
O mundo é muito vasto, variado e múltiplo. Toda forma é forma do Ser. O tempo é Brahman. O espaço é Brahman. Jagat, o Universo, como diz o verso de Śaṅkara, não precisa ser medido.
Para nós, basta considerar esse Universo como o que conhecemos dele, desde a nossa experiência humana. Universo, para nós, é aquilo que experienciamos. E viver o que temos para viver, plenos e felizes.
Jagat é o que você é em termos de corpomente, é o que você vê, o que você ouve, o que você cheira, o que você sente e o que você toca. É a suma de todas as suas experiências sensoriais.
Este é o modelo dos cinco sentidos, dos cinco elementos, pañcabhūta: terra, água, fogo, ar e espaço. O espaço traz implícita a presença do tempo. Portanto, tempo e espaço são, perceptualmente, a mesma coisa.
O universo fenomênico inclui, através da presença do espaço, o tempo. E, através da presença do tempo, a do movimento, a da atividade. A pessoa do mundo adora o mundo.
Canta canções para o mundo, para o desfrute. Para o cantor, o mundo é real. Segundo Śaṅkarācārya ensina, Brahman é Satyam; o mundo é mithyā, Brahman é Realidade, o mundo é relativo.
Quando você toca o colar, você toca o ouro. Quando você vê o colar, você vê o ouro. Quando você pesa o colar, você pesa o ouro.
Tente tirar o peso do ouro do colar: quanto vai pesar o colar sem o ouro? A Verdade é simples. E a beleza da Verdade é que ela é o que é.
Quantas coisas há: um colar por um lado e um ouro pelo outro? Você pode escolher um sobre o outro? Só há ouro. O colar é relativo. O ouro é o que é. Ouro é a Realidade. O colar é o atributo circunstancial do ouro.
A pulseira é outro atributo circunstancial do ouro. Nenhuma dessas formas, nenhum desses nomes, colar, pulseira, existe separado do material com o qual os objetos são feitos. Não há colar nem pulseira sem a presença do ouro.
Viva feliz e calmamente, então, pois não há outra possibilidade a não ser a da entrega. É isso."
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